A orientação do governador

Nunca na história um governador do Rio Grande do Sul teve sua administração aprovada pelos gaúchos. A maior prova disso é que nenhum foi reeleito para continuar governando após a redemocratização. Os gaúchos são assim: “faca na bota”, “não leu, o pau comeu”. Há quem goste, mais ou menos, de uma linha de gestão ou de outra. Também nunca se teve maioria, muito menos consenso, para escolher um representante por aqui. E isso não é exclusividade nossa, claro. Faz parte da democracia, onde ao menos podemos expressar nossas preferências, se assim for o nosso desejo – e tivermos permissão. Melhor assim!

O Rio Grande do Sul enfrenta a maior crise fiscal de sua história. O endividamento chega a ser vergonhoso, mas não passa de reflexo de sucessivas más administrações e jogo de interesses. Sim, quem governa o Estado tem intenções que vão muito além das atribuições e deveres sociais de um chefe de Estado assalariado pago pelo eleitorado que o legitimou. A trama flerta com roteiro de traição em filme de péssima qualidade. Quem conduz a máquina pública e faz uso dessa potência enquanto está no poder, defende interesses. E não apenas os próprios, ou impróprios. São muitos interesses, mas não são, com certeza, os interesses da massa de eleitores que contam. Quer um exemplo?

A dívida do Rio Grande do Sul supera os R$ 70 bilhões. A maior parte dessa devida é com a União, o Governo Federal. São mais de R$ 60 bilhões que teremos que pagar, o equivalente a R$ 20 mil por família, aproximadamente. Sim, devemos tudo isso. Cada gaúcho, inclusive os recém-nascidos, crianças em idade escolar, aposentados, trabalhadores que recebem salário mínimo, etc, devem mais de R$ 5 mil à União. Mas a União também deve para o Estado gaúcho mais de R$ 58 bilhões relativo às “desonerações” da Lei Kandir, aquela que desde 1996 (governo PSDB) libera os produtores de pagarem ICMS sobre as exportações de produtos primários e semielaborados. A conta poderia ser quase zerada. Mas não vai, porque quem decide não quer. E fomos nós que os elegemos. Um dilema.

Onerados e desonerados

Pois, então… essas “desonerações” para um setor seleto, muito rico, saliente-se, acaba contribuindo para a ampliação das desigualdades sociais no RS. O tal grupo seleto amealha os benefícios econômicos da tal desoneração: compra mais terras, mais caminhonetes do ano, viagens de férias à Europa, maquinários agrícolas, por exemplo, e aumenta a produção mecanizada, dispensando também, cada vez mais, a mão de obra dos trabalhadores do campo. Já sabes para onde eles rumam, não é? Sim, isso mesmo: para as praças, viadutos, marquises, calçadas… até serem corridos por um prefeito zeloso qualquer. Enquanto uns são beneficiados pelas desonerações fiscais, outros são onerados pela escolha dos governantes. Há, por trás de tudo isso, e pela frente também, as orientações do governador da vez. Tanto ele orienta, quanto é orientado por alguém (ou alguéns). Você sabe qual é a orientação do atual governador?

Um cenário muito preocupante no RS

Eu gostaria de compartilhar com vocês uma leitura que considero muito preocupante sobre o cenário sociopolítico gaúcho. Nesse sentido, destacaria três pontos a serem considerados aqui:

O primeiro deles é a opção do governo gaúcho de buscar corrigir os problemas financeiros do Estado pressionando a situação dos trabalhadores. São milhares de professores e outros servidores públicos estaduais, inclusive os aposentados, que serão impactados negativamente. Importante ressaltar isso é uma escolha de governo, pois já foi demonstrado que existem outras alternativas, entre elas a diminuição das renúncias fiscais para grandes empresas, que pouco empregam, e o fim da Lei Kandir, que isenta de tributação os produtos primários destinados à exportação.

Outro ponto é a falta de diálogo com os diversos setores da sociedade excluídos dos debates no projeto Cresce RS, de iniciativa da Assembleia Legislativa e que conta com a participação do Estado. Se estão planejando o melhor para a população, porque excluir as entidades e setores representativos da sociedade. Fica aqui uma questão importante para ser pensada e encaminhada aos deputados e ao governo gaúcho.

O terceiro e último ponto aqui, mas não o menos importante, muito ao contrário, são os projetos de megamineração e do polo carboquímico. Nesse rumo pretendido pelo governo e por vários parlamentares gaúchos, de diversos partidos, o Rio Grande pode estar trilhando um caminho muito perigoso, tanto do ponto de vista ambiental, quanto do econômico.
É importante que a população fique atenta a esses assuntos antes que seja tarde, ou como se diz no interior do estado, para não chorar o leite derramado.

Não queime por nós, Amazônia

É difícil entender que o fogo que queima e dilacera teu corpo perfeito arde em minha alma, lançando tuas cinzas no meu destino. É difícil compreendê-la, diante de tua magnitude intocada e dos mistérios que ainda guardas, como mãe gentil. Não quero viver, sufocado, nas cinzas da tua destruição. Te necessito plena para deitar em teu berço esplêndido e respirar, apenas respirar sob o Sol contigo. Hoje, 5 de setembro, a poucos dias de uma nova Primavera, te dedicamos nosso respeito e rogamos por tua proteção. Não chores por nós, Amazônia. Nos perdoe. Resiste e mostra a tua força.

Não és apenas a nossa maior floresta, tampouco o teu valor se resume aos benefícios que nos proporcionas, mesmo de longe, sem que, em muitos casos, tenhamos sequer consciência da tua incomensurável importância. Hoje é teu dia no calendário, Amazônia. Vamos reverenciá-la! Mas não esqueceremos que esta data não é mais do que uma mera formalidade que precisa servir, ao menos, para lembrar que te necessitamos preservada nos 365 dias de todos os anos.

Hoje é um dia dedicado a ti, um dia para agradecer e pedir o teu perdão. Pedir perdão, também, aos teus guardiões por não estarmos conseguindo salvá-los. Estamos te destruindo, Amazônia! De forma consciente, estamos aniquilando teus protetores, teus índios, tua biodiversidade. Junto a isso tudo, estamos nos matando. Mas a estação da vida está chegando, e, com ela, vem a esperança renovada de uma nova consciência, união e atitude. Não estamos sós. Somos muitas Gretas, Dorothys, Evas, Leóns, Chicos, Franciscos, Raonis, Lutzenbergers. Somos Marias e somos Joãos. Podemos, ainda, fazendo uso da inteligência que nos é possível, escolher o melhor caminho, aquele que não ruma à destruição.

Na letra adaptada do compositor de Santa Fé, eu só peço a Deus que o sistema não nos seja indiferente. O fogo é um monstro grande e queima forte toda a inocência de nossa gente. Que nossas nações se irmanem em defesa da nossa casa comum. Que nossa floresta mãe não queime por nós.